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Preços do Petróleo Bruto em Tempos de Eleições dos EUA e de um Resfriamento da Economia Chinesa

Adam Lienhard
Adam
Lienhard
Preços do Petróleo Bruto em Tempos de Eleições dos EUA e de um Resfriamento da Economia Chinesa

Os preços do petróleo são um pilar fundamental da economia global, e sua dinâmica geralmente reflete mudanças geopolíticas e econômicas mais amplas. Os EUA e a China são dois agentes-chave na arena do petróleo. À medida que as eleições nos EUA se aproximam, a volatilidade dos preços do petróleo bruto frequentemente se intensifica à medida que os participantes do mercado avaliam possíveis mudanças políticas e seu impacto na oferta e na demanda. Exploremos o tópico no artigo de hoje.

Oferta e demanda

Embora a oferta e a demanda continuem sendo os principais impulsionadores dos preços do petróleo, o risco político, principalmente durante as temporadas eleitorais, desempenha um papel crucial na formação das expectativas do mercado. As próximas eleições nos EUA devem influenciar as oscilações de preços de curto e longo prazo, especialmente porque os EUA se tornaram um grande exportador de petróleo devido ao crescimento do fracking. À medida que traders avaliam potenciais políticas econômicas, os preços do petróleo podem mudar, impulsionados pelas mudanças industriais de demanda, restrições de oferta e o ambiente de risco mais amplo.

Entretanto, os EUA não são o único agente-chave neste mercado complexo. A China, o país líder em demanda por petróleo global há anos, também se tornou um agente decisivo na dinâmica dos preços de petróleo. Desde o começo dos anos 2000, a rápida industrialização da China, investimentos em infraestrutura e prosperidade crescente, impulsionaram um apetite insaciável por petróleo. Ao longo dos últimos 10 anos, o país contabilizou mais de 60% do aumento total de demanda por petróleo no mundo, com o consumo chinês hoje batendo 18% a mais do que os níveis pré-pandemia.

Ainda assim, a demanda chinesa mostra sinais de contração, com o consumo do petróleo caindo 1,7% ao ano em meados de 2024. Uma economia desacelerada, desafios demográficos e padrões de investimento mutáveis sugerem que o crescimento do consumo de petróleo chinês possa estar perdendo impulso.

Essa dinâmica chinesa em evolução, combinada à incerteza política dos EUA, prepara o cenário para uma volatilidade significativa nos preços globais do petróleo antes das eleições nos EUA.

A luta chinesa pelo crescimento econômico

O crescimento econômico da China nas últimas décadas foi impulsionado principalmente por investimentos, muitos dos quais financiados por um sistema bancário dominado pelo Estado. Este modelo de investimento pesado, especialmente a partir da crise financeira de 2008, ajudou a impulsionar o desenvolvimento rápido em infraestrutura e a expansão industrial. Entretanto, muito do capital foi direcionado a empresas estatais, que não raro falharam em gerar retornos fortes, criando infeciência em alocação de recurso.

Atualmente, a China enfrenta problemas econômicos significativos. Sua força de trabalho está diminuindo, e o crescimento produtivo desacelerou. Isso é fortemente apoiado por uma crescente taxa de desemprego juvenil, cujos dados estatísticos deixaram de ser publicados pelo departamento estatístico da China em agosto de 2023.

Embora o governo tenha tentado reequilibrar a economia mudando para um crescimento baseado no consumo e nas indústrias de serviços, o caminho tem sido irregular. O investimento privado diminuiu à medida que as empresas se tornam cautelosas com os riscos crescentes, e as crescentes tensões com os EUA ameaçam o acesso da China à tecnologia estrangeira crucial.

Além disso, o setor imobiliário fortemente endividado, que havia sido um pilar do crescimento, agora vacila. Ao longo da última década, investimentos errados e gananciosos no mercado imobiliário levaram à criação da maior bolha imobiliário que o mundo viu desde 2008, nos EUA. Nos últimos anos, a bolha começou a deflacionar muito rapidamente. Grandes construtoras, como Evergrande e Country Garden, anunciaram um calote em suas obrigações de dívida, já que a queda nos preços dos imóveis não permitiu que cobrissem as despesas. Como resultado, preocupações crescentes sobre a riqueza das famílias e as finanças dos governos locais ganham força.

Ainda que a dívida chinesa seja principalmente doméstica, ineficácias sistêmicas sobre distribuição de capital — combinadas às inconsistentes intervenções no mercado pelo governo — impões riscos contínuos ao crescimento futuro.

Após o golpe financeiro mortal causado pela pandemia da COVID, a produção industrial e manufatureira chinesa continua a cair, enquanto sua economia afunda em uma crise profunda que, se continuar a se desfazer, inevitavelmente levará a um menor crescimento da demanda por petróleo no futuro, impactando negativamente os preços mundiais do “ouro negro”.

(Demanda por petróleo na China – Relatório do Mercado de Petróleo da AIE (OMR) Setembro de 2024)

Eleições dos EUA e reações históricas dos preços do petróleo

Os preços do petróleo têm uma importância significativa nos EUA devido à cultura enraizada do carro e da dependência em veículos pessoais do país. Com subúrbios extensos, rodovias extensas e infraestrutura limitada de transporte público, muitas cidades americanas foram projetadas para priorizar viagens rodoviárias, tornando a direção uma necessidade para a maioria dos cidadãos. Esta dependência de carros torna o preço da gasolina uma grande preocupação para o cotidiano dos EUA, impactando diretamente o custo de vida. Por esse motivo, quando as eleições se aproximam, os preços do petróleo monitoram a política de perto, reagindo proporcionalmente.

Estas reações geralmente seguem um padrão influenciado por diferentes políticas energéticas de Democratas e Republicanos. Historicamente, os mercados de petróleo tendem a cair logo após uma vitória democrata, apenas para se recuperar antes da posse, enquanto as vitórias republicanas geralmente levam a uma recuperação de curto prazo, seguida por uma correção. Esta dinâmica vem das percepções de mercado sobre a postura de cada partido sobre a indústria do petróleo, com Republicanos geralmente favorecendo políticas e empresas pró-petróleo, e Democratas tendendo à regulamentação ambiental e à energia limpa. Uma resposta mais fraca e não muito clara acontece após a reeleição, quando a influência de uma possível mudança repentina na política energética desaparece.

Se olharmos para uma perspectiva de longo prazo, num período de 30 anos, antes da crise financeira de 2008, os preços do petróleo caíram na primeira metade do novo mandato presidencial e se recuperaram na segunda metade. Após a recuperação global, que aconteceu durante o primeiro governo Obama, o petróleo tende a aumentar e, depois, a cair na segunda metade de cada governo. O mesmo aconteceu durante o governo Biden, à medida que uma recuperação imparável recuperou o que os preços do petróleo perderam durante a Covid.

Com base nas observações de longo prazo, há uma recuperação consistente do mercado antes das eleições nos EUA (excluindo a crise de 2008).

Infelizmente, estas dinâmicas não têm a ver com a política dos EUA e dependem mais da oferta e da demanda. É um padrão de comportamento claro para o petróleo, entretanto.

(Gráfico semanal WTI 16.09.2024 – TradingView)

Previsão de reação do petróleo para as eleições de 2024

Nas próximas eleições de 2024, o contraste das propostas energéticas entre a candidate democrata Kamals Harris e o ex-Presidente Republicano Donald Trump é gritante. Espera-se que Harris dê continuidade ao objetivo do Presidente Biden de atingir a energia limpa, reduzindo a dependência em combustíveis fósseis e investindo em tecnologias verdes. Tais políticas podem, inicialmente, pressionar os mercados do petróleo à medida que os traders anteciparem uma regulação mais forte e uma demanda por petróleo diminuída.

Por outro lado, Donald Trump, conhecido por seu apoio à indústria petroleira, indicou que procurará impulsionar a produção doméstica de petróleo através de desregulamentação, se focando na independência energética e expandido as exportações estadunidenses. Uma vitória de Trump pode disparar um rali nos preços do petróleo, levado a cavo pelas expectativas de aumento de produção estadunidense e regulamentações ambientais mais frouxas, o que encorajaria mais investimento em infraestrutura de combustível fóssil.

À medida que a eleição se aproxima, os mercados de petróleo deve reagir à paisagem política em evolução, refletindo as distintas abordagens políticas. Entretanto, outros fatores globais, como o desempenho econômico e os riscos geopolíticos, também podem desempenhar um papel significativo no estabelecimento das movimentações do preço do petróleo, complicando quaisquer tendências claras relacionadas às eleições.

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